domingo, 17 de agosto de 2014

A lógica cristalina dos genes

Estou a ler The Selfish Gene. A escrita de Richard Dawkins é vibrante e uma mente curiosa só quer ler mais e mais. Mas não se enganem: não é a escrita que é importante aqui — são as ideias.

Apesar de algumas tentativas recentes de mandar abaixo esta metáfora genial do gene egoísta (talvez menos por razões científicas e mais pelos anticorpos criados por Dawkins com o seu proselitismo ateísta), a verdade é que aquilo que aprendemos neste livro é isto: a Teoria da Evolução é tão lógica e clara que era inevitável.

Ou seja, se de facto temos genes, se existem mutações e se não temos recursos infinitos para manter uma população sempre em crescimento, é óbvio que os genes mais bem talhados para sobreviver em determinado ambiente irão reproduzir-se em maior número até substituírem os genes que lhes fazem concorrência directa. Por outro lado, os genes não pensam: existem, apenas. Ou seja, não podem combinar fazer isto ou aquilo — não podiam deixar de ser egoístas: se há formas de se reproduzirem em maior número, como poderiam decidir não o fazer? Ou bem que sobrevivem ou bem que não sobrevivem: apenas a sua adequação ao ambiente decide o que acontece. É um processo cego, aleatório mas inteiramente lógico.

Destas premissas simples, constrói-se todo o edifício da Teoria da Evolução, que não só explica, como prevê sem enganos o que acontece no mundo.

Não vão por mim, claro. Leiam o livro.


(Para quem tem medo do título: dizer que os genes são egoístas não quer dizer que nós, enquanto seres de nível muito mais elevado do que os genes, devamos ser egoístas. Até pode ser que tenhamos tendência para isso, mas não quer dizer que tenhamos de aceitar cegamente o que os nossos instintos nos dizem. O próprio autor desfaz este equívoco linguístico na introdução à edição que estou a ler [2006].)

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